terça-feira, 9 de novembro de 2010

Lixo nuclear: e se fosse herança do império romano?


por Nelmara Arbex


Acabou hoje. 92 horas de manifestação ininterrupta, cerca de 5000 velhos, jovens e crianças com colchões, comida e tudo. Em volta deles se revezam 20 mil policiais. Pelos trilhos do trem entre eles se aproximam 123 toneladas de material altamente radioativo, que ficara' guardado nos próximos 100 a 10000 anos em túneis profundos perto da cidadezinha de Gorleben na Alemanha. Um armazém provisório. Não ha' armazém definitivo.

O carregamento vem da França onde foi tratado e embalado para ser guardado, como manda a legislação internacional. Os manifestantes sabem que não podem devolver o lixo, que e’ deles. Se trata de atrasar o transporte e chamar atenção de todos para mais um carregamento recorde de contaminação. O custo do transporte chegou a 50 milhões de euros.
São 12 mil toneladas de lixo atômico produzidos por ano mundialmente. Não ha' o que fazer com ele. Ha' propostas de guardarmos este lixo na Antártida, ha' também a idéia de enviar tudo para o sol. Alguns elementos demoram 24mil anos para serem totalmente neutralizados, como o Plutônio. A parte mais leve precisa de cerca de 2mil anos. Este e' o tempo necessário de armazenamento. Se energia nuclear tivesse sido utilizada na época do império romano, somente em nossos tempos o lixo estaria parcialmente descontaminado. Este e’ o legado do nosso tempo `as próximas gerações.
O banco PNB Paribas esta’ também no foco das campanhas como um financiador de energia nuclear, inclusive no Brasil, onde a tecnologia que o Brasil tem direito a usar e’ considerada ultrapassada e perigosa.
Pode imaginar a nossa precária situação se os romanos tivessem desenvolvido esta tecnologia dois mil anos atrás? Que sorte a nossa que não conseguiram e não contaminaram todo o planeta! Os próximos habitantes do planeta já não terão tanta sorte.

E aí ? Vai energia atômica aí meu povo?




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Recado para D. Dilma


por Nelmara Arbex

Excelentíssima senhora eleita presidente do Brasil, parabéns pela sua eleição!

Como mulher, não pude deixar de admirar o fato de que uma mulher esteja liderando este país, como o The Independent tão felizmente celebrou - juntamente com a imprensa mundial.

Tenho certeza de que todos os brasileiros estão torcendo para que a senhora faça um excelente governo. Que consiga combater a corrupção como nenhum homem foi capaz de fazer, que consiga proteger a saúde e a segurança da mulher como nenhum homem foi capaz de fazer, que consiga controlar o comércio de armas, que consiga fazer da escola pública uma celebração do aprendizado como era na minha época... e tantas outras coisas tão básicas e tão necessárias que nenhum homem ainda conseguiu fazer.

Guardarei com cuidado seu emocionado e comprometido discurso inaugural. Sem dúvida um documento que comprova suas melhores intenções.

E numa contribuição para a história da humanidade, espero que consiga colocar nossas melhores cabeças pensantes juntas para bolarmos um modelo de desenvolvimento que não signifique necessário aumento do consumo, da destruição do planeta e das proteções sociais.

E se em algum momento a senhora tiver alguma dúvida do quanto isto e’ necessário, de uma olhada neste contador de impacto humano sobre o planeta. E me diga se a senhora ainda teria alguma dúvida que estamos correndo contra todos os limites se continuamos com o modelo atual de desenvolvimento, se tem alguma dúvida que estamos comprometendo nosso futuro.

Principalmente agora, que o Brasil esta' se consagrando campeão de crescimento com este modelo, no mínimo, ultrapassado e alarmantemente destruidor... que so’ pode ser encarado e modificado se o governo resolver liderar as mudanças necessárias neste sentido.

Que a senhora e os 10 partidos que a apoiaram tenham coragem para fazer deste um excelente governo.


sábado, 30 de outubro de 2010

Urgente Avaaz - do "Ficha Limpa" ao 'Salve as baleias"




por Nelmara Arbex

E’ preciso agir super rápido, propõe o Avaaz (melhor se acostumar com este nome).

Este mesmo poderoso e inteligente site de ativismo cibernético que ajudou no’s brasileiros a fazermos a petição para mudança de legislação “campanha ficha limpa” está numa campanha emergencial internacional, por uma causa que eu apoio: a proteção das baleias.

O Avaaz está coletando assinaturas para mudar a legislação de internacional de caça `as baleias.

Não perca tempo, entre neste link, faca a sua parte, envie aos seus amigos.

E pense bem antes de votar amanhã...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Filminho para acordar candidatos: agronegócios, direitos humanos, desmatamento



por Nelmara Arbex

A TV alemã começou uma semana de documentários sobre a questão da produção de alimentos e sobre a fome. (Se quiserem saber mais, me escrevam.)

O filme de hoje “Hunger” (Fome) passa pelo Kenia – onde comunidades estão morrendo de fome porque os grandes produtores rurais desviam os leitos dos rios para irrigar campos de flores para exportação; pela Índia – onde os agricultores que plantam algodão transgênico comentem suicídio frente ao desespero da fome que inesperadamente os assola; pelo Haiti – onde a população não sabe ou não quer mais plantar nada e morre faminta ao redor de cidades sujas e paupérrimas; e claro, pelo Brasil.

Quando chega no Brasil o documentário visita enormes campos amazônicos recém saqueados pela retirada de madeira ilegal, depois os transformados em pasto, depois passa por iiiiimmmmeeeensssaaas plantações de soja e grãos. Quem tem duvida se o desmatamento esta avançando sobre a floresta –como eu tinha- vai se convencer depois destas cenas singelas.E de helicóptero localizam facilmente 600 hectares de floresta que recém viraram plantações, entre vários outros desmatamentos ilegais facílimos de ver.

O documentário entrevista ainda pequenos produtores locais amazônicos sendo escorraçados pelas grandes empresas agrícolas e coleta denuncias de assassinatos nas grandes plantações do Mato Grosso. Ainda entrevista o prefeito de Sorriso, que não tem duvida de que “o meio-ambiente esta ai' para servir o homem, que claro e’ soberano”.

Tudo ali na cara do telespectador. Nada de exageros. Tudo simplesmente mostrado. De fácil acesso. Qualquer cidadão poderia perguntar o que eles perguntaram. Qualquer candidato também.

E sabemos disto tudo, não e’ mesmo? O que podemos fazer para que o Brasil não seja esta imagem do pouco caso? O que planejam fazer os candidatos? E pensar que temas como estes foram um dia bandeiras do Partido dos Trabalhadores... me lembro muito bem.

As recentemente publicadas declarações de Dilma sobre “tolerancia zero com desmatador”, cheio de palavras fáceis e soluções rápidas não me convencem. Esta e’ uma situação gravíssima, sem solução fácil, mas que precisa ser urgentemente discutida e enfrentada.

Mas ainda não ouvi Serra falar sobre isto. Acho que foi corajoso quando quebrou a patente dos remédios para AIDS e conseguimos distribuir quase gratuitamente os medicamentos a pacientes brasileiros, com fabricação própria. Seria genial usar esta coragem para enfrentar os dilemas da área do desenvolvimento/grandes empresas X florestas X pequenos produtores. Mas parece que ele ainda esta precisando de uma bussola para acertar o rumo...

Um dia os desesperados pela miséria e pela fome (miséria definida em termos de falta de educação ou perspectivas) vão migrar e avançar sobre as populações mais ricas, e nada vai para’-los porque eles não tem mais nada a perder. Não acho que estamos longe deste momento. E’ preciso fazer algo para que isto não continue”. Assim termina o documentário, com as palavras da impressionante Suman Sahai – especialista na relação entre tecnologia genética e fome, que aparece na foto acima.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

de Boston - Prosperidade X Pegada ecológica




por Nelmara Arbex

Aqui estamos nós num auditório da Harvard Business School, umas 60 pessoas, discutindo como vamos desenhar uma ferramenta para podermos ter uma visão geral dos impactos sociais e ambientais das atividades empresariais. "Integrated reporting: An Action Plan".

Que tipo de relatório de impacto de atividades deveriam as empresas produzir para que pudéssemos reduzir a “pegada sócio- ecológica “ destas atividades, e talvez, podermos de verdade pensar em um modelo de desenvolvimento onde prosperidade não signifique destruição?

Concordamos que os relatórios de sustentabilidade atuais não estão cumprindo este papel, apesar de serem ferramentas poderosas para melhoria da gestão e de transparência – precisaríamos ter muito mais deles e em formatos melhor definidos para que cumprissem o papel que gostaríamos que cumprissem. Concordamos também que os atuais relatórios financeiros tampouco servem ao seu propósito. Além de muito a ser feito na definição do conteúdo deles (ambos), deveríamos– por exemplo- ser capazes de organizar a informação contida neles de uma forma internacionalmente aceita e de fácil acesso (talvez em tempo real, monitorada em todo o planeta ?).

Na sala estão os(as) líderes das organização de contadores e auditorias, representantes de fundos de investimento, especialistas da universidade de Harvard, líderes de ONGs globais ligadas a questão de relatórios de sustentabilidade, empresas, e outros interessados nesta conversa.

Papo super interessante. Boas cabeças ligadas. Mas so’ o começo de uma jornada que deve ainda levar uns 10 anos...

Malu Pinto,consistente pensadora e gestora dos temas de sustentabilidade reconhecida internacionalmente, do Banco Santander do Brasil, esta' tambem aqui. Com as antenas ligadíssimas.
ps: para saber mais sobre esta imagem clique aqui

domingo, 10 de outubro de 2010

Serra ou Dilma? Quem vai encarar esta de sustentabilidade?


por Nelmara Arbex

O desafio da sustentabilidade e’ um desafio bem simples: como continuamos crescendo e consumindo mais e melhor sem destruirmos tudo `a nossa volta? Sem que -para que paguemos preços baixos - precisemos ter trabalhadores famintos, semi-escravos, escravos ou crianças produzindo nossos produtos? Ou para que produtos em larga escala não estejam impregnados de tóxicos empesteando tudo, literalmente tudo,`a nossa volta?

Ninguém e’ contra a idea de repensarmos como estamos buscando “desenvolvimento”, mas o fato e’ que a civilização contemporânea se meteu numa enrascada, quando definiu crescimento ou desenvolvimento ou “bem estar” principalmente através do que se pode produzir, vender e comprar. Aí... bem, aí chegamos onde chegamos. Fontes naturais esgotadas, natureza intoxicada, animais em extinção e direitos humanos e trabalhistas ameaçados.

E agora temos que pensar como vamos sair desta. Filhos e netos que hoje tem 10 anos de idade ou menos já’ não verão a natureza como nós a conhecemos. Nem pensarão em petróleo como uma bênção. Nem poderão fingir que não sabem que preços baixos significam altos preços sociais e ambientais.

Toda esta conversa de sustentabilidade não e’ muito mais complicada do que isto. Não tem muito segredo.

Mas mudar o jogo todo vai precisar coragem e em época de eleição coragem e' o que falta.

Marina era sem duvida a candidata que melhor entende este dilema, ela e seus assessores. Mas nem ela colocou o dilema assim com todas as letras sobre a mesa. Será porque o eleitor não esta' preparado para este papo? Não estamos preparados para o futuro que vem – inexoravelmente- em nossa direção?

Como nos prepararemos para enfrentarmos ele? Com certeza não será conseguimos bilhões para investir em mais petróleo da Petrobras... mas talvez se usarmos todo este dinheiro para treinarmos e equiparmos uma enorme tropa de super modernos guardas florestais movidos a helicópteros com combustíveis verdes e fotos de satélite em tempo real em parceria com Google?

Uma das razões da falta de coragem para colocar este papo na mesa e’ o fato de que numa população com problemas urgentes o voto e’ imediatista. Papo de futuro nao ganha eleição.

Outra razão e’ que o tema da sustentabilidade precisa de muitos outros aliados: legislação, bancos e empresários. A construção deste caminho não e’ uma tarefa que pode ser ganha somente pelo eleitor/consumidor, mas claro que podemos e temos que fazer a nossa parte.

E agora? Sem Marina, sobram Serra e Dilma.

Não interessa quem você escolha, mas não se esqueça de este futuro vem vindo bem em nossa direção e vamos ter que lidar com ele. Qual dos dois pode encarar esta da melhor forma? Pois o(a) próximo(a) presidente vai ter que encarar esta, de uma forma ou de outra...

PS:
Disto andou falando Pedro Passos, acionista e co-criador da Natura, para o programa Grandes Líderes da Revista Exame. Valhe a pena dar uma olhada.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Planeta Lula: a etnia Xucuru que se cuide...





por Nelmara Arbex

“A maioria dos brasileiros acha que Lula mudou o país para melhor” ou “Lula redescobriu o Brasil” ou “Planeta Lula” ou “ O gigante adormecido acordou” ou ainda “ Brasil passou batido pela crise” – todas estas frases de efeito foram usadas na matéria de página inteira publicada ontem no maior jornal de Berlim -Der Tagespiegel- com o título “O gigante desperta”.

Depois deste início cheio de adjetivos para Lula, o jornalista Bernardo Gutierrez de Recife descreve o programa Luz para Todos, Minha casa, Bolsa Família, Fome Zero, etc.

“De onde vem o dinheiro para os programas?”, pergunta-se o jornalista, e induz: Por exemplo dos impostos arrecadados com o crescente agronegócio, como o plantio de soja. 70 milhões de toneladas no ultimo ano.

Aí o jornalista da’ espaço para o líder João Pedro Estedile do MST dizer que 46.911 donos de terras são donos de 50% das terras do Brasil. Para promover esta expansão utilizam pesticidas de forma generosa – O Brasil e’ campeão mundial em uso de pesticidas - e plantam a segunda maior área do planeta com sementes geneticamente manipuladas (apesar das restrições legais). O país teve 194 conflitos de terra somente no Nordeste neste ano de 2010, onde grandes proprietários de terra acabam de expulsar a etnia Xucuru de suas terras.

O jornalista conclui que a reforma agrária, os conflitos em torno da terra, a proteção da reservas naturais e dos povos indígenas não foram o forte da gestão Lula.

E assim segue o país como a oitava economia do planeta, com um dos mais influentes líderes mundiais a sua frente, que exportava 26% para os Estados Unidos – de frutas a aço, de granito a mesas – hoje exporta somente 10% aos norte-americanos, mas exporta 14% para China e outros tantos para África. Assim funciona o Planeta Lula, conclui o jornalista.

fotos de Bernardo Gutierrez, em Suape e em Caete, cidade onde Lula nasceu, para Der Tagespiegel