domingo, 13 de novembro de 2011

Quem define qual o nível de pobreza aceitável `a nossa volta?




por Nelmara Arbex

Com certeza não são os miseráveis que definem o nível mínimo de pobreza e condições de vida aceitável `a nossa volta.  Poucas vezes na história eles o fizeram. São os mais ricos que decidem. São eles/no’s que podem se articular e mover amigos, prefeitos e a câmara para impedir que a as condições de vida dos mais pobres desça a níveis desumanos. Mas eles, os mais ricos, nem sempre o fazem.  Mas quando o fazem, ...o mundo muda...

Acabo de voltar da Índia.  Uma semana cheia. A última vez que estive la’ foi em 2008.  Desta vez no programa estavam Mumbai, Kolkata, Delhi. A agenda cheia de reuniões e eventos sobre relatórios de sustentabilidade e sobre iniciativas governamentais para promover transparência na gestão empresarial indiana.

Impossível  não notar a miséria presente em todas as grandes cidades. E a sujeira também. Muita gente literalmente acampada nas ruas.

Mas Delhi mudou. A cidade se transformou completamente desde 2008. Totalmente limpa.  Quilômetros de canteiros e calcadas pintados e cuidados. As avenidas tem pista demarcada e o eterno buzinar caótico dos carros, contra tuc-tucs, caminhões e animais na contra-mao, quase desapareceu. Crianças, idosos e deficientes aparecem raramente nos sinais pedindo comida ou dinheiro.  Um aeroporto de deixar qualquer um de queixo caído, faz Guarulhos parecer um aeroporto de fazenda.

A cidade conta hoje com cerca de 17 milhões de habitantes. 9% deles – cerca de 1,5 milhão - abaixo da linha da miséria urbana. Muito abaixo. Ainda assim esta’ em muito melhor situação que o resto da Índia, que tem cerca de 27% de seus 1.2 bilhões de habitantes praticamente mendigos.

Os hotéis de luxo são enormes, com restaurantes sofisticados e jardins, pessoas de todo o mundo atravessam os saguões: árabes, chineses, europeus,  de todos os credos e todas as cores. Nestes ambientes tudo cheira a planos, a negócios e a futuro.

O motorista do taxi que me leva ao aeroporto de Delhi me conta que 5 imensos hotéis 5 estrelas estão planejados e devem inaugurar no próximo ano.

Os prédios do governo estão caindo aos pedaços. A poluição continua,  a poeira, o cheiro defumado, matéria orgânica em decomposição e... claro que a pobreza também. Mas a transformação da cidade tem muito a dizer. Principalmente comprova que quando os mais ricos se organizam muito se pode mudar.

Eles se organizaram e decidiram mudar a cara da cidade. Por que isto ajuda eles a ficarem mais ricos. Miséria brotando nas ruas e nas calcadas não e’ bom pra ninguém. Quando vamos no's -paulistas, cariocas, gaúchos, maranhenses, paraenses, mineiros, pernambucanos e tantos outros - os mais ricos decidir mudar o nível mínimo de miséria que vamos aceitar no Brasil?