por Nelmara Arbex
Com certeza não são os miseráveis que definem o nível mínimo de pobreza e condições de vida aceitável `a nossa volta. Poucas vezes na história eles o fizeram. São os mais ricos que decidem. São eles/no’s que podem se articular e mover amigos, prefeitos e a câmara para impedir que a as condições de vida dos mais pobres desça a níveis desumanos. Mas eles, os mais ricos, nem sempre o fazem. Mas quando o fazem, ...o mundo muda...
Acabo de voltar da Índia. Uma semana cheia. A última vez que
estive la’ foi em 2008. Desta vez
no programa estavam Mumbai, Kolkata, Delhi. A agenda cheia de reuniões e
eventos sobre relatórios de sustentabilidade e sobre iniciativas governamentais
para promover transparência na gestão empresarial indiana.
Impossível não notar a miséria presente em todas as grandes cidades. E
a sujeira também. Muita gente literalmente acampada nas ruas.
Mas Delhi mudou. A cidade se transformou
completamente desde 2008. Totalmente limpa. Quilômetros de canteiros e calcadas pintados e cuidados. As
avenidas tem pista demarcada e o eterno buzinar caótico dos carros, contra tuc-tucs,
caminhões e animais na contra-mao, quase desapareceu. Crianças, idosos e
deficientes aparecem raramente nos sinais pedindo comida ou dinheiro. Um aeroporto de deixar qualquer um de
queixo caído, faz Guarulhos parecer um aeroporto de fazenda.
A cidade conta hoje com cerca de 17 milhões
de habitantes. 9% deles – cerca de 1,5 milhão - abaixo da linha da miséria urbana.
Muito abaixo. Ainda assim esta’ em muito melhor situação que o resto da Índia,
que tem cerca de 27% de seus 1.2 bilhões de habitantes praticamente mendigos.
Os hotéis de luxo são enormes, com
restaurantes sofisticados e jardins, pessoas de todo o mundo atravessam os saguões:
árabes, chineses, europeus, de todos
os credos e todas as cores. Nestes ambientes tudo cheira a planos, a negócios e
a futuro.
O motorista do taxi que me leva ao
aeroporto de Delhi me conta que 5 imensos hotéis 5 estrelas estão planejados e
devem inaugurar no próximo ano.
Os prédios do governo estão caindo aos
pedaços. A poluição continua, a
poeira, o cheiro defumado, matéria orgânica em decomposição e... claro que a
pobreza também. Mas a transformação da cidade tem muito a dizer. Principalmente
comprova que quando os mais ricos se organizam muito se pode mudar.
Eles se
organizaram e decidiram mudar a cara da cidade. Por que isto ajuda eles a
ficarem mais ricos. Miséria brotando nas ruas e nas calcadas não e’ bom pra
ninguém. Quando vamos no's -paulistas, cariocas, gaúchos, maranhenses,
paraenses, mineiros, pernambucanos e tantos outros - os mais ricos decidir mudar o
nível mínimo de miséria que vamos aceitar no Brasil?