quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dubai do futuro?

por Nelmara Arbex

Acabo de chegar de um treinamento que ofereci em Dubai. Dubai é um dos sete países dos chamados Emirados Árabes.

Nao é a primeira vez que visito um país árabe, mas foi a minha primeira vez em Dubai. Países culturalmente tão diferentes dos nossos são sempre curiosos e instigantes para mim. Dubai é uma cidade-país de 1,2 milhoes de habitantes, no meio do deserto. TODA a água vem da dessalinização da água do mar e, além de manter esta enorme população, ainda permite luxos impensáveis aos mais ricos senhores do deserto - piscinas, cascatas, pomares, jardins imensos... A economia de Dubai não depende do petróleo, e há uma política estatal de crescimento econômico baseado em energias limpas, competindo com o vizinho AbuDabi na mesma linha de desenvolvimento.

Dubai tem como segunda língua o inglês, tem liberdade religiosa, uma impressionante mescla populacional, e, diferentemente de outros países árabes, mulheres gozam dos mesmos direitos de homens. Mas são apenas 25% da população. Por quê? Porque 85% da população total vem de outros países para trabalhar ali e a legislação não permite que os trabalhadores tragam as suas famílias, a menos que tenham salário suficiente para sustentá-las, o que é raro entre os trabalhadores “blue color” - vindos principalmente do Paquistão, Bangladesh, Filipinas e Índia para trabalhos básicos.

O cidadão emirati (dos Emirados Árabes) tem vários direitos. Não paga por água nem eletricidade, tem jornada de trabalho reduzida e outros benefícios. Ninguém paga imposto – nem cidadãos emiratis nem estrangeiros - e todos os serviços públicos são oferecidos utilizando os lucros das empresas “estatais”, que neste caso pertencem às famílias regentes do país.

Os governantes de Dubai têm planos para o futuro, planos na área econômica, social e ambiental. Esta cidade foi erguida em 40 anos por governantes visionários e engenhosos. O desafio que eles se propõem agora não é menos audacioso – um Dubai energeticamente independente e exportando “know how” para outros países.

Mais fácil a engenharia do que a formação de um povo, como se pode constatar ali.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Carros a bateria - emissão zero?




por Nelmara Arbex

Leio irritada a matéria sobre carros a bateria na revista Fortune – March 2010 . A matéria tenta apresentar os carros a bateria como a solução do futuro, pois precisamos de carros com emissão zero. Com vendas planejadas na Europa, na Ásia e nos EUA.

Mas a conta não é assim fácil, claro que todos sabem disso. Carros a bateria precisam ser carregados e a sua emissão total dependerá muitíssimo da fonte da tal energia para carregá-los. Além disso, como as baterias serão de lítio ou de qualquer outro metal, vamos precisar continuar escavando a terra atrás desses metais que, se retirados em alta escala, em breve faltarão. Sem falar da energia necessária para produzir tais baterias.

A matéria nem trata disso. Conteúdo leviano.

Falando nisso, deve estar na hora de fazer a conta de emissão de carbono total – incluindo produção do carro – do híbrido brasileiro e verificar se ele, mesmo assim, se apresenta como boa solução para o futuro de emissões zero. Será?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Inteligência coletiva!

Foto: dr. Aleks Krotosi - a autora do estudo e da série, brilhante!

por Nelmara Arbex

Interessante o documentário no canal BBC2 ontem sobre o que a internet representa em termos de desenvolvimento do pensamento humano e como influenciou a todos nós nos últimos 20 anos. Vale a pena checar!

Autores pioneiros, de até um século atrás, foram apresentados, pois já questionavam a forma linear que a escolaridade e os livros utilizam, contra a natureza “associativa” do pensamento humano. Por exemplo, quando pensamos numa pessoa que se chama “Bia”, não pensamos em todas as pessoas que conhecemos em ordem alfabética até chegarmos no nome dela e nem começamos a descrevê-la fisicamente ou com dados. Há uma série enorme de lembranças que associamos a esta pessoas, seus movimentos, situações em que estivemos juntos, que chegam ao nosso pensamento em uma sequência e formato nada linear.

Assim funciona – finalmente! – a internet.

A repórter entrevistou vários CEOs jovens brancos, americanos, que criaram Facebook, Twitter, YouTube ou comunidades similares. E termina mostrando como na Coreia do Sul, o país mais conectado do mundo, as crianças passam horas resolvendo problemas usando a internet, desde os 4 anos de idade. O diretor da escola filmada disse que tem certeza que estas crianças serão mais inteligentes do que nós, pois estão acostumadas a utilizar uma “inteligência enorme e coletiva” para achar soluções para os problemas que devem resolver. Muito promissor!, pensei.

Mas parece que, com os dois minutos – em média – que cada um de nós permanece num website, não é fácil saber o que aprendemos no final...

Para saber como você absorve informação e conhecimento da internet, pode participar deste teste mundial on-line: “the web behaviour test”. Será você um porco-espinho ou uma marmota? Demora 20 minutos, mas infelizmente somente em inglês...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ano Novo Chinês – Ano do Tigre

por Nelmara Arbex

Cheguei a uma reunião internacional de executivos dia 18 e fui recebida com um “Feliz Ano Novo” por um deles. Precisei de uns segundos para lembrar que a pessoa em questão era de Hong Kong e que se tratava do Ano Novo chinês. Ano do Tigre. Hoje pela manhã, fui a um templo budista da cidade para um dia dedicado aos bons pensamentos e energias para este ano novo. Deixei lá meu incenso, pensei muitas coisas boas, e no almoço chinês conversamos sobre as características do tigre.

Estive na China em 2008 pela primeira vez. Fui a Beijing e à Muralha da China. Fui participar como palestrante de um seminário sobre responsabilidade corporativa empresarial que se estendia por toda uma semana. Além de escutar palestras, dei um dia inteiro de aula. O seminário era organizado por uma agência governamental chinesa, universidades de lá e da Europa e outras organizações. Os participantes eram todos chineses e eu tinha tradução simultânea todo o tempo. Três outras cidades assistiam a aula através de um sistema de transmissão simultânea . O escândalo do leite tinha acabado de acontecer e eu recebi muitas recomendações pra nao dar este tema como exemplo. Nao precisei. Um dos participantes o fez.

O nível de interesse e concentração era impressionante. Estes dias na China foram um marco importante na minha educação pessoal e profissional. Escrevi um artigo sobre este período que foi extremamente rico e representou muito para mim (veja aqui).

Agora fico imaginando aquelas pessoas tão antenadas, querendo aprender sobre tudo, que nunca cansam e nunca param, cidadãos da maior e mais impressionante nação que a humanidade foi capaz de construir, agora sob inspiração do espírito do tigre…

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

RP e notícias climáticas

por Nelmara Arbex

No jornal holandês De Volkskrant (Jornal do Povo), John Schoorl e Bert Wagendorp apresentam uma entrevista com o premiado jornalista Nick Davies, do jornal inglês The Guardian. A entrevista trata da manipulação da mídia pelas agências de relações públicas dos serviços secretos. Parece papo do tempo da Guerra Fria, mas nao é.

O entrevistado afirma que – em questões climáticas, por exemplo – há 3 grupos de relações públicas com estratégias e objetivos diferentes: o primeiro é liderado pela companhia de petróleo Exxon, que contrata agências de RP (relações públicas) para colocar em dúvida a relação entre emissão de CO2 e mudança climática. O segundo grupo é liderado por empresas como British Petroleum e Shell e tem estratégia diferente: comunicar que estão conscientes do problema, se apresentar como parte do problema e da solução. Tornaram-se “companhias de energia”. No terceiro grupo está o Greenpeace e outras ONGs ambientalistas.

Ele sugere que o leitor cheque as mensagens do web site das organizações e se pergunte: “Onde vi isto antes? Será verdade?” Ele duvida que as mensagens de todas as organizações mencionadas acima sejam baseadas em dados acurados.

Eu me pergunto: será este mesmo o caminho para as organizações que advogam causas? Talvez sim, e esta seja a lição que o Greenpeace ensina às ONGs.

Jogo caro. Caro como o jogo pelo futuro do planeta.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Empresas sustentáveis - conseguimos?

por Nelmara Arbex

Provocada por uma discussão de conteúdo para uma publicação com John Elkington, fiquei horas no avião de volta de Barcelona pensando: o que alcançamos nos últimos 10 anos de campanha pela responsabilidade empresarial, quanto as empresas deixaram de destruir ou conseguiram reconstruir? Ou o que seria uma empresa/um negócio sustentável de verdade? É um projeto possível?


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Design sustentável - ares de Barcelona

por Nelmara Arbex

Cheguei a Barcelona para reuniões com diferentes tipos de organizações governamentais, não-governamentais e consultorias em torno da agenda de responsabilidade corporativa da região da Catalunha.

Hoje à noite, antes das reuniões organizadas para amanhã, vou jantar com um grupo de jovens e muito engajados consultores na área do desenvolvimento sustentável da LAVOLA : Enric Pratginestos, Anna Fuster, Anna Alcubierre e Amanda Ortega.

No avião, li um artigo interessante publicado na HollandHerald – Feb 2010 sobre Design. O artigo se chama “ Creating the future” (Criando o Futuro) e começa com a frase “a cara do design está mudando e está se tornando definitivamente 'verde', quanto mais buscamos soluções ecológicas para nossas necessidades, Jane Szita checa o que vem por aí”.

Alguns pedaços me chamam particularmente a atenção. Logo na introdução, a autora menciona que Tim Brown – CEO da IDEO e autor do livro “Change by Design: How Design Thinking Transforms Organizations and Inspires Innovation” (e do blog designthinking.ideo.com) - disse recentemente na reuniao da TED Global em Londres que os designers do futuro deverão ser menos os criadores de objetos cheios de brilho de hoje e mais como Isambard Kingdom Brunel – o criador do grande projeto das ferrovias Britain’s Great Western Railway, cuja rede visionária de pontes, túneis e viadutos tinha como objetivo propiciar a experiência de “flutuar sobre os campos”.

Fui ao site do TED e escutei a palestra de 16 minutos. Inspiradora e prática. Recomendo.

O artigo ainda comenta o modelo “Cradle to cradle”, o projeto texxi, entre outros.

O que mesmo andamos fazendo no Brasil no campo do design sustentável?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Kumi Naidoo - nova cabeça e coração no Greenpeace

Foto: Kumi Naidoo em Davos, Janeiro 2010. Leia mais sobre sua participação no evento.

por Nelmara Arbex

Acabo de sair inspirada de uma curta reunião com Kumi Naidoo, o novo presidente do Greenpeace Internacional. A conversa abordou, entre outros temas, a necessidade de que a solução das crises - financeira, ambiental, social, de modelo de desenvolvimento - sejam pensadas de forma integrada.

Voltamos à famosa ideia de que “A natureza do modelo de desenvolvimento tem que ser mudada” e “não se resolvem velhos problemas com a mesma forma de pensar que criou os problemas”. E falamos sobre a importância de que tabus como o consumo contínuo, as profundas desigualdades sociais e a indústria de conflitos armados sejam colocados sobre a mesa e tratados seriamente. Também falamos sobre os principais temas da agenda do Greenpeace para os próximos anos: mudanças climáticas, proteção dos oceanos, agricultura sustentável e substâncias tóxicas (para saber mais consulte o site da organização aqui).

Conheci Kumi numa viagem que fiz à África do Sul em 2001. Ele era parte do CIVICUS e eu do Ethos, estávamos numa conferência de organizações da sociedade civil de lá. Depois nos reencontramos no conselho da GRI, quando CIVICUS já era uma bela rede internacional e Kumi já estava esparramado sobre uma respeitável rede de organizações, como o World Economic Forum, Clinton Fundation, Global Call to Action against Poverty (GCAP) entre outras , e agora como principal executivo do Greenpeace.

Olhando para Kumi falar sentado naquele sofá na cozinha do Greenpeace, diante dos meus olhos a conhecida e potente organização de ambientalistas se transforma numa fenomenal e inovadora criação humana, combinando inestimável conhecimento e mobilização ambientalista com este ser profundamente ligado às questões sociais mais apimentadas do planeta, como as do continente africano. “Uau! É disso mesmo que precisamos!”, pensei.

Dê uma olhada no vídeo aqui.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Esperanza

por Nelmara Arbex

Canal alemão-francês de TV ARTE apresentou impressionante documentário sobre os tripulantes do barco Esperanza, do Greenpeace, durante missão no Pacífico Sul para tentar evitar a caça de baleias pela frota japonesa, que por ano caça de mil a 2 mil baleias ameaçadas de extinção nos pontos mais remotos do planeta. Depois de vários dias de viagem aos confins do planeta, e vários outros dias perseguindo os navios japoneses, o barco do Greenpeace tem que retornar por falta de combustível, causando grande frustração à tripulação.

De forma interessante, o documentário comeca em um ritual xintoísta japonês, no qual os presentes pedem às forças da natureza para protegerem os tripulantes da frota japonesa e pedem às almas das baleias para que se acalmem e os deixem caçar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Visão 2050

por Nelmara Arbex

Recebi uma cópia do documento com a “visão 2050 “do World Business Forum for Sustainable Development. Estou curiosa.

O resumo executivo diz “Um plano sobre como 9 bilhões de pessoas vão viver bem em 2050”.

Oh, deuses! Quanta coisa para ler nestes tempos de sustentabilidade!